quarta-feira, 19 de março de 2014

Você traz a Coca-Cola, eu tomo. Você bota a mesa, eu como.

Nêga, quando te digo que estou de saco cheio dessa vida, você não acredita. Que minha vontade é quebrar essa casa, sair daquele emprego, tomar o último porre com os amigos e sumir, mandando todos que são contra à merda. Mas tem alguém que não posso mandar à merda: você.

Você quer coisa diferente. Você quer domingos de almoço na casa de sua mãe, você quer ir a praia depois do expediente, você quer shopping, você quer escola boa pros meninos que ainda nem existem, você quer um sofá novo, você quer que eu conserte as bicicletas, você quer perfume francês... você quer demais.

Eu não, nêga. Eu quero pouco. Eu quero ir pra um cantinho de terra dentro duma mata dessa, onde a única coisa que eu vou te ver vestindo é um vestidinho transparente que revele seus lindos seios amarronzados. Eu quero te trazer comida e água sempre que você quiser para depois lhe assistir comendo, perceber sua humanidade, fantasiar que se eu não te der comida, tu não come. Sem mim tu não vive. Eu quero é admirar tua felicidade e teu cansaço caminhando embaixo de sol a pino. Testa molhada, olhos entreabertos, gotas de suor, sorriso no rosto. Quero acordar de manhã, acender o primeiro cigarro e admirar sua silhueta nua iluminada pela luz que atravessa a veneziana. Quero observar seus cabelos molhados, colados em sua nuca enquanto nadamos num riacho, enquanto corremos na mata, enquanto dormimos ou estamos à mesa, enquanto comemos e, principalmente, nêga, enquanto eu como. Enquanto eu como... você.