sábado, 18 de setembro de 2010

World ain't so bad at all (Parte 2)

Em algum lugar, talvez muito perto, talvez muito longe de mim ou de você, leitor, existe uma menininha. Ela tem 3 anos. Ela, há 4 meses, descobriu uma doença em seu corpo, leucemia. Ela tem chances de sobreviver. Elas são pequenas, mas elas existem, e essa menininha e seus pais agem com frieza a todos que falam que o pior pode acontecer.
-Podemos pensar de forma boa ou ruim. Escolhemos a melhor forma. - falava a mãe a todos que tocam no assunto.
-E se ela morrer?
-Ela não vai morrer.
-Pensando desse modo, você não se preparará pro pior, e se ele acontecer, você não vai estar preparada.
-Eu nunca conseguiria me preparar pra uma coisa dessas.
Continuando a história, a menininha agora olha para o balão que ela estava brincando. Ele escapou de suas mãos e agora estava à 5 metros do chão. Ela olha aquele cachorrinho rosa de ar subindo pelos ares. Uma outra criança de 3 anos choraria com o acontecido. Mas essa menina não. Ela não vê motivo para chorar. É só um balão.
-Nossa, que linda você! Nem chorou por causa do balão! Parece até gente grande... - diz a moça que trabalha na casa da menininha.
-Tem muita gente grande que chora por coisas bobas, e elas não vêem que, um monte de vezes não tem motivo pra chorar. Mamãe disse que eu estou dodói, e que eu amanhã eu posso nem acordar, mas ela disse que ao invés de chorar por isso, eu devia aproveitar o que a vida tem de bom. Ela disse que sempre tem motivo pra viver.
E realmente, sempre tem.


...

sábado, 11 de setembro de 2010

World ain't so bad at all (Parte 1)

Em algum lugar, talvez muito perto, talvez muito longe de mim ou de você, leitor, existe uma velhinha. Seria hipocrisia ou até mesmo mentira falar que ela está satisfeita com sua vida. Ela tem 73 anos. Há 3 meses ela não vê nenhum de seus filhos ou netos. Ela mora sozinha num apartamento. O apartamento, agora, está em chamas. O incêndio começou com um curto circuito no disjuntor principal. A velhinha está presa. Ela no momento de desespero caiu e acabou por esbarrar na geladeira que, por sua vez, acabou por cair em cima da senhora. A velhinha grita por socorro. Ela já não tem esperanças, ela já tem certeza de que morrerá ali, incinerada. Certeza de que vão esquecê-la assim como os filhos fizeram.
De repente, a velhinha vê uma pessoa. É aquela menina Manuela que morava no apartamento de cima, que todas as vezes que se encontrava com a velhinha no elevador ou coisa assim, lhe dava um sorriso, ou um bom dia, ou apenas algum sinal de educação e respeito.
A menina sua e tosse enquanto tenta tirar a geladeira de cima a senhora. A velhinha fala:
-Vá, minha filha! Você é muito jovem para...
-Ah, não acredito que a senhora tá pensando que nós vamos morrer! - e volta a fazer força para levantar a geladeira.
Ela consegue. A velhinha torceu a perna e anda com dificuldade, mas apesar de tudo, elas conseguem sair sãs.
-Muito obrigado, minha filha, você hoje me provou que ainda há gente boa nesse mundo!
-Sempre há, dona. - responde a menina com seu otimismo de toda jovem de sua idade.
Não é tanto otimismo assim.
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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Promessa quebrada

A aula já havia começado quando a menininha de olhos de jabuticaba chegou de mão dada à sua mãe.
A mãe chamou a professora na porta falou meia dúzia de palavras, virou-se para a filha falando:

-Mamãe volta depois pra te buscar, tá, minha flor?

A menina respondeu com um sorrisinho amarelo a assistiu com o coraçãozinho apertado a mãe ir embora. Naquele dia, ela estava vestida com seu vestido preferido, cheio de flores e borboletas de todas as cores, "Hoje é um dia importante mamãe...", argumentava ela com a mãe, que, por fim, se deu por convencida a deixá-la usar aquele vestido.

-Venha, meu anjo. -chamou a professora-Turma, essa é a Júlia, a nova coleguinha de vocês. Digam 'oi' pra ela.
-OII!- disseram as crianças em uníssono
-Vai sentar na sua cadeira, lindinha.

A garotinha sentou-se na última cadeira da penúltima fila. Abriu seu caderno de bichinhos e pôs-se a desenhar. Ela era muito talentosa pra uma criança de 5 anos, seus desenhos não s resumiam a apenas rabiscos. Ela tentou desenhar o menininho que estava sentado ao lado. Mas logo desistiu.

-Ai, eu não consigo!-resmungou ela.

Olhou de novo para o menininho ao seu lado. Algo nele a intrigava. "Por que será que ele ta tão sozinho?" perguntava a si mesma.

-Ei, menino!

Nada.

-Eei eu to falando com você...

Nada.

-Você aí!-ela começava a elevar a voz...

A menina que estava à sua frente falou:

-Deixa ele. Ele não fala com ninguém... A tia até falou que ele é doente...
-Eu não acredito nisso.

Ela se levantou, puxou a carteira até o lado dele.

-Eu não saio daqui até você me dizer o seu nome.

Depois de meia hora, ele finalmente abriu a boca.

-Meu nome é Daniel.
-Que nome legal!-animou-se ela- Por que você é tão quieto?
-Eu tenho medo das pessoas...
-Mas você não precisa ter medo, pelo menos não de mim!

Ele lhe soltou um risinho abafado.

-Você é tão bonito...

Nesse momento o sinal tocou.

-Vem Daniel, eu to doida pra brincar naquele parquinho

E saiu puxando o menino por toda a escola até o parquinho. Lá, eles comeram o lanche que trouxeram de casa, brincaram de casinha, carrosel, todos os tipos de pique... Até que ao final da tarde, a menininha descalça e com os pés sujos de terra fez ao menininho certo pedido:

-Promete que vai ser meu amiguinho para sempre?
-Eu lá tenho outra escolha?!

E caíram numa daquelas gargalhadas gostosas de criança.

PS: Mal sabiam eles que, anos depois, aquele vestidinho de flores e borboletas, que a menina trajava, se tornaria um belo vestido branco, que aqueles pés sujos de terra se transformariam em sapatos engraxados e que eles estariam na frente um do outro dando aquela mesma gargalhada de criança e quebrando aquela promessa que haviam feito. Já que, seria pra sempre, mas não como amiguinhos.