quinta-feira, 15 de abril de 2010

Juntos

Eles sentaram na varanda do sítio a ver o pôr-do-sol, ele passou o braço pelos ombros dela e com a outra mão, livre, pegou na mão dela. Ela recostou sua cabeça em seu peito, de modo que pudessem assistir àquele espetáculo juntos, como faziam todas as tardes.
Sua incríviel sintonia de casal sempre permitiu que pensassem juntos na mesma coisa sem que fosse falada uma só palavra. Hoje, eles lembravam como suas vidas foram magníficas, como construíram uma família estruturada e unida, como seus filhos eram bem-sucedidos, como seus netos eram maravilhosos...
Seus filhos, Regina, Cláudia e Marco, moravam na capital e tentaram, por inúmeras vezes, leva-los definitivamente para lá, onde eles teriam melhores condições de vida. Nunca obtiveram sucesso em nenhuma tentativa. O casal nunca sairia do lugar em que nasceram, do lugar em que passaram sua feliz infância, lugar que há 70 anos eles dois, na adolescência, se conheceram e iniciaram sua linda história de amor, lugar que criaram seus filhos, dando-os uma boa educação, apesar das dificuldades, lugar que eles queriam passar o resto de suas vidas, ou melhor de sua vida, já que eles não gostavam que falassem que cada um tinha uma vida, cada um era cada um, não, os dois eram um só.
Eles não achavam que precisavam de médicos, ou de melhor qualidade de vida, bastava um ter ao outro, bastava saber que seus filhos e netos estavam bem, bastava poder assistir ao pôr-do-sol todos os dias naquela mesma varanda.
Por precaução, seus filhos tratavam de cuidar deles, obrigavam-nos a tomar os remédios, a se alimentar bem, cuidar deles. Ele resmungava com a idéia de quererem mandar nele, ela em sua infinita calma e compreensão, aceitava a ajuda e as ordens dos filhos sem se queixar. Marco, o caçula, ligava todos os dias para saber como eles estavam, apesar de sua vida corrida de jornalista, tirava pelo menos 20 minutos de seu dia para ouvir as histórias do dia que a mãe lhe contava com empolgação. Ela sentia falta da convivência com os filhos. Regina ia ao sítio com os filhos quase todos os fins-de-semana para matar a saudade, ajudar a mãe no mercado e verificar se tudo estava bem por lá. Cláudia morava a muito no exterior, e não tinha condição de ir ao sítio mais de uma vez ao ano, evitava ligar todos os dias pois sabia da dificuldade dos pais com aparelhos celulares.
Quando o sol já ia sumindo no horizonte, ela se virou para ele, os olhos cheios d’água, e disse:
- Queria te agradecer.
- Por que?- perguntou ele com serenidade, porém um pouco de espanto.
- Por ter me trazido flores todos os dias, por me encantar todas as noites, por nunca deixar faltar nada a meus filhos e a mim. Por me fazer a mulher mais feliz do mundo. Por me fazer me sentir a mais bela de todas. Obrigado por me amar tanto assim.
- Você acabou me deixando sem palavras para os seus e os meus agradecimentos. Só digo que, nesses 70 anos junto a você, se eu tive algum problema, não foi por falta de felicidade e que eu te amo mais do que amei e amaria qualquer outra pessoa.
Eles olharam pela última vez o sol. Fecharam os olhos, e em sua incrível sintonia, folgaram ao mesmo tempo o aperto de mão. Agora, eles iriam para uma nova vida, onde continuariam sua história de amor, só que dessa vez, seria pra sempre.

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