segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Uma história de amor.

Ali, ao som das ondas espancando as pedras, ele chorava. Gritava. Não, não havia som. Se houvesse ele nunca saberia. Sua cabeça doía demais para prestar atenção em qualquer coisa que não fosse sua própria dor.
Um relâmpago de lembranças veio a sua mente, e agora, como se pudesse voltar no tempo, ele se encontrava num bar, onde tinha visto aquela morena de sorriso bonito e tinha lhe falado algumas frases em um francês romântico e sussurrado. Agora, como se uma ventania o levasse pra outro tempo e espaço, ele se encontrava numa cama, ela sobe ele. Prazer. Pele com pele. Suor com suor. Ele a sentia em seu íntimo. Um último gemido em uníssono. Ela olha pra ele com um olhar apaixonado e o propõe o eterno.
O casamento. Ele nunca havia visto tão belo ser em toda a sua existência. Ela vinha com olhos marejados e aquele mesmo sorriso que ele havia se apaixonado no rosto. "Eu me apaixono a cada vez que a olho", pensou ele, mas não externou seu pensamento, ele deveria o ter feito. A ventania o levou de novo.
Ele estava na sala. Aquela espera era infinita. A parteira veio, "O senhor pode ir vê-los". Ele entrou no quarto, ela repousava na cama, cochilando. A criança estava no moisés na cabeceira da cama. Ele foi até ela e deu-lhe um beijo na testa, sentiu o gosto salgado do suor, e riu pela situação. "Não olha pra mim, to me sentindo uma vaca suja e gorda". Ele tornou a rir da frase espirituosa. Olhou para o pequeno embrulho repousado no moisés. "Ele e o joelhinho mais lindo do mundo", disse. "Joelho é o cacete".
De volta à pirambeira à beira do mar, ele sentiu suas costas doendo. Começava a chover. Nem o sol tinha força de espírito para se mostrar em tão fúnebre dia. Ele olhou a pedra ao lado, contemplando seus nomes nela escritos, um sinal de eternidade. "Até que a morte nos separe"...
Buscou uma razão, uma razão para o que tinha acontecido. Não encontrou. A única coisa que conseguia pensar com nitidez era o que alegrava. Ele pensava na imagem de um garotinho moreno, com os mesmos olhos de jabuticaba da mãe. Aquele era o presente que havia deixado.
Aqueles pezinhos gordos, aquele "upa" apertado, aquele sorrisinho desdentado. Aquela sim era uma razão para viver.
Ele olhou para o céu, enxugou suas lágrimas, levantou e se encaminhou para o carro. Mudança de planos. Num impulso ele se virou para o abismo, pegou impulso e se jogou. "Je peux voler".

3 comentários:

deh. disse...

Ai, que historinha mais triste.. Tão bonita quanto as outras, mas com algum sentimento a mais, a sensação de grito no escuro.. Não se porque, mas pensei nessa imagem. Um grito surdo no escuro. Talvez de dor ou de espanto. Não importa. O coração tava cheio de dor. Esvaziou.

Beijo grande!

gabi disse...

como assim 'se jogou', gente??
e o bebê?

ô, fico triste também com essas coisas, .-.

obrigada pela visita :*

Aline Azevedo disse...

E que ele voe para onde ainda possa amar. E que exista ainda dor. Que é melhor que nada sentir. E que ele voe para os braços do filho. Para os braços da mulher que ama.
Poder voar requer saber voar. Que ele saiba.

Meu beijo para você, que também é um ótimo escritor :)