quarta-feira, 4 de abril de 2012

Seu budega

Eu num sô da elite, num sô na zona nobre, num istudei, num sei recitar poema (má que eu acho bonito eu acho!), num sei falar ingrês, num sei mexê em cumputador. Dia desse menino novo passou 'qui em frente com celular na mão, perguntei ele cumé que fazia pra mexê naquela bodega. Ele me mostrô umas tecrinha piquititinha por demais que eu num consegui vê do que se tratava no visor. Num uso óculo, bodega feia por dimais. Ismiucio os'óio pra vê aquelas letrinha piquena que aparece nas coisa má que nada, consigo xergá nada. Trabaio de jardinero em casa de granfino la pra área das mansão. Corto, capino, varro, limpo, aparo, colho, cuido das rosa da patroa. As rosas da patroa são as coisa mais linda de si vê! cada bitela dumas rosa vermeia! 'ses dia inté robei uma pra levar pra casa pra dá pra minha netinha. A bichinha passô pra formação de professora. Coisa mais linda é vê aquele monte de dente na boca da minha menina quano veio me dá a nutícia. Passei vô eu vo sê professora. Eu garrei ela no colo e rudupiei de alegria, é bom quando as criança da um gosto desse pra nois. É bom vê que ela vai tê uma vida meió que a minha, vai ter mais cundição, vai mandar os fio dela pra iscola de gente inteligente, que ela ta gostano do futuro que ela vai tê, gostano do trabaio. Eu gosto muito do meu trabaio. Minhas roserinha são minhas coisa mais linda, tem inté nome, nome da minha mãe, da minha avó, das minha duas filha, da mulher da minha vida Carmem, da minha neta, da minha patroa, isso dão sete rosera. Eu boto mata bixo, rego, podo, corta as rosa pra patroa, tiro os espinho e levo pra dentro de casa pra botar na sala da patroa, fica lindo que só. A patroa tem dois fio. O mais veio é surdo, mas inteligente que só, a gente fala com ele normal e ele entede tudin, vê tudin, sente tudin. Tenho uma pena danada do rapaz, num consegue arrumar namorada, nem amigo, nem nada. Ninguem tem paciença. Eu chamo ele pra cuidar do jardim comigo ele vai, faz uns sinal pra perguntar comé que faz as coisa, eu ensino e ele bota um sorriso de oreia a oreia quando pranta uma coisa, ou vê que o pé de melancia ta dando fruto, exempro; ai nessas hora o muleque fica tao bunito que eu queria ver rapariga destratar ele. Ele nunca quer ir pra iscola, que ficar no jardim comigo, na cozinha com a Graça ou vendo a irmã tocar piano. Ô diacho de coisa bunita também! Eu, ele mais a Graça sentamo em volta dela e ela toca as tecrinha, chega a arrupiá só de lembrá, e nois tenta imitar a melodia cum a boca, o menino não, ele só para e fecha os zoio. Antonte ele chorô, nois sabe que ele num é feliz, e ele não precisa falar pra nois sabê. Má nois tambem sabe que vimo ele chorano, e dai eu pensei qu'essa budega de musica é tao coisa que nem precisa ouvi pra senti. Ai que a gente vê cumé que a vida é bunita por demais, as rosas, o garoto que sente por demais, as canjica da minha minina puquê passô na prova, a cara da minha mulhé toda vez que eu chego em casa com o pão que nois bataia tanto pra comprá... Ih 'gora eu tenho que ir que a bendita ta chamando pra cumê... Vamo entrar siminino! ta sirvido? Só num repara na casa, que nois é humilde...

3 comentários:

. débora disse...

engraçado como eu li o texto todo me sentindo o próprio roceiro :]
gostei, como de costume! bjsbjs

João Romova disse...

heheheheh amei o título do blog!

Jaya Magalhães disse...

Eita que eu gostei disso num tanto, seu menino! HAHAHA Adoro e acho belíssima a capacidade que a gente tem de ser do mundo, ao escrever.

Olha, enquanto lia seu texto escutei me minha mente a música do Pato Fu, tão linda quanto teu texto:

"Vai diminuindo a cidade
Vai aumentando a simpatia
Quanto menor a casinha
Mais sincero o bom dia..."

Um beijo.